quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Jesy Barbosa, 20 Anos de Saudade




Esse meu blog está se iniciando com homenagens póstumas. Mas elas são merecidas.

Quero enfocar nessa postagem uma cantora que descobri em 1989. Eu procurava outra intérprete quando me deparei com sua foto na capa de um LP. Era um disco relançando gravações feitas entre 1929 e 1931, aproximadamente. Os outros intérpretes a dividirem com ela esse LP eram Elisinha Coelho, Sylvio Caldas e Breno Ferreira.

Seu olhar meigo e terno me cativaram e, depois de ouvir sua voz e como interpretava as músicas, tornei-me fã.

Seu nome é Jesy Barbosa. Hoje, injustamente esquecida. Mas, a maioria das grandes intérpretes de nossa música passada está em igual situação. Meu medo é tornar esta página um pouco amargurada, mas farei força para que seja o contrário. Porém, a verdade tem que ser dita.

Jesy foi o grande nome feminino escolhido pelos executivos da gravadora Victor quando resolveram instalar uma filial aqui no Brasil, especializada em nossa música. Era ela o nome forte para chamar a atenção do público.

Suas pimeiras gravações foram Medroso de Amor, samba-canção de Zizinha Bessa e Olhos Pálidos, canção de Josué de Barros. Jesy fez a gravação no dia 11 de Setembro de 1929 e o disco foi lançado em Novembro deste mesmo ano.

Em 1930 foi eleita Rainha da Canção Brasileira, vencendo nomes de peso como Zaíra de Oliveira, que ficou em segundo lugar, e a jovem iniciante Carmen Miranda que, demonstrando coleguismo e amizade, ao ver que estava fora do pelito juntou-se à torcida da futura vencedora.

Em Abril de 1933, nossa artista é entrevistada pela revista Vida Doméstica. O título da reportagem, poético como a entrevistada, é significativo em sua vida - Violão, meu companheiro. Nella, Jesy afirma "...sou campista. Quero muito bem á minha terra...nasci mesmo no coração de Campos." À pergunta "...e esse violão invejável porque os seus dedos longos o acariciam, como entrou na sua vida?" ela respode "Não entrou. Elle já estava. Quando me conheci por gente, elle era mais alto do que eu, empunhava-o pequititinha...".

- Estás brincando; isso é uma história lindamente inventada. A entrevista segue... Os grandes olhos luzentemente negros de Jesy Barbosa pousam cheios de uma claraverdade na observação, num gesto reprehensivo de confirmação. E a bocca, onde dormem todas as sonoras harmonias das vocalizações triunphaes das grandes noites de seratas d´honore, com apllausos febricitantes e coroações sagradoras, deixa cahir, uma a uma, as palavras emotivas de uma evocação que põem um lugar antigo dentro da alma:

- Era o violão de mamãe.

Seu pai, Luiz Barbosa (não confundir com o cantor) era poeta, tendo no violão um um camarada das madrugadas lyricas de rapaz, cheio de sonhos e de talento. Em uma época onde o instrumento não pertencia às rodas aristocráticas, o jovem apaixonou-se por uma moça da sociedade de Campos, Srta. Victoria Barbosa. Sentindo que era correspondido em seu amor, Luiz tratou de esconder da amada o violão. Noivaram e, quando ja estavam casados, foi tomado de grande surpresa ao ver entrar em sua casa um violão! Sua esposa, entre sorrisos, confessou que também tocava o instrumento e escondera esse detalhe como o noivo havia escondido sua predileção artística. Dessa união de grandes sensibilidades artísticas e o determinismo da belleza se affirmaria quando ao inicial-a a senhora sua mãe no manejo do violão, alcançaria dentro em pouco em o meio do Rio de Janeiro, as glórias de precursora da divulgação de nossos cantares regionaes atravéz do radio, cujos programmas eram recem irradiados.

Estudiosa, sem vaidade continuou progredindo sempre, e "Rainha da Canção" (sic) , proclamada em memorável pleito, cursava as aulas de canto com Madame Show, que a iniciou e a formou nessa arte.

Ao pedirem que lhes autografe a entrevista, com uma citação sobre ela própria, a cantora escreve:

"Quando nasci Fatalidade mandou que Tristeza me puzesse uma cantiga no coração" .

Jesy Barbosa





Também era poetisa e jornalista. O poeta Orestes Barbosa definiu Jesy como uma figura macerada, com os olhos esquecidos no rosto triangualr, e adicção perfeita, tirando os efeitos originais, falando dentro da música, preferindo as canções de emoção e pensamento - a última romântica num raro grupo que resiste na última trincheira da valsa que é a musicalidade da carta de amor...

Jesy Barbosa nasceu em 15 de Novembro de 1902 e faleceu No Rio de Janeiro em 30 de Dezembro de 1987, aos 85 anos.

Fontes: As fotografias de Jesy Barbosa pertencem ao Arquivo Nirez, de Fortaleza-Ceará.

A primeira fotografia é a original que Jesy presenteou à redação da revista Phono-Arte, para divulgação de seus discos, em 1930. Hoje a foto e a revista são de propriedade de Nirez.

Nela, lê-se:

A Rainha da Canção Brasileira

Artista Victor

Jesy Barbosa



A segunda foto faz parte da matéria publicada na revista Vida Doméstica, de 1933. Também faz parte do Arquivo Nirez.



Pesquisa de MARCELO BONAVIDES.


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terça-feira, 8 de janeiro de 2008

23 Anos sem Aracy Côrtes




Para um amante ardoroso da Música Popular Brasileira é impossível citar Aracy Côrtes sem se emocionar. O seu nome tem um ar de divindade e impõe respeito.
Para mim, Aracy Côrtes é sinônimo de MPB. Sua importância para a nossa cultura ainda não foi devidamente reconhecida pela maioria dos brasileiros, apesar das belas homenagens feitas a ela. Ouço suas gravações e me sinto atraído pelas menos famosas, aquelas oriundas dos palcos da Praça Tiradentes onde ela foi rainha, onde seus agudos e brejeirice enlouqueciam e hipnotizavam platéias. Suas histórias e lendas fascinam, mas o meu interesse maior é a verdadeira Aracy.

Muito se falou sobre sua fama de briguenta e desbocada. Fico me perguntando se ela não tivesse essa personalidade forte, será que teria triunfado numa época machista? Em uma época em que negaram o prêmio principal da Academia Nacional de Música à sua primeira colocada, a grande Zaíra de Oliveira por ela ser negra? Em uma época onde se uma moça não tivesse o pulso forte e a convicção que era talentosa conseguiria ter seu talento artístico reconhecido? Aracy percebeu isso e defendeu seu espaço.
Uma vez ela comentou: “Já pensou se eu tivesse nascido americana?”. Talvez tivesse seu temperamento cultuado e não criticado. Afinal, divas estrangeiras têm o direito sagrado de serem temperamentais e, muitas vezes, nós achamos isso o máximo. Já nossas divas parecem não possuir esse “privilégio”.
O talento e legado de Aracy segue engalanado e digno. A fragrância da Linda Flor fez-se música e podemos aprecia-la em suas gravações.

Entre inúmeros sucessos, coube a ela lançar e imortalizar, em 1928, o primeiro samba-canção "Linda Flor", gravado no começo de 1929 com o título de "Yayá" e mais conhecido como Ai Yôyô.
No dia 08 de Janeiro de 1985 Aracy falecia.

Como escreveu Evandro Teixeira no Jornal do Brasil por ocasião da data, "Quando seu corpo sair do Teatro Recreio (sic), onde está sendo velado desde ontem, para o Cemitério São João Batista, onde será sepultado às 9 horas de hoje, mais que uma época, toda uma arte estará partindo com ela."

PS. O corpo de Aracy foi velado no Teatro João Caetano. O teatro recreio já havia sido demolido.






Agradeço ao Acervo Nirez pela foto do Jornal do Brasil e ao meu amigo Carlos Branco que me ajudou na revisão.

A foto de Aracy jovem (aos 20 anos, em 1924) pertence à capa do livro "Aracy Côrtes - Linda Flor", de Roberto Ruiz, publicado em 1984 pela Funarte, em comemoração aos 80 anos de Aracy.


Pesquisa de MARCELO BONAVIDES.


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segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

O Início.

Olá, me chamo Marcelo e não sei bem como iniciar essa apresentação. tenho medo de ser muito formal ou informal em excesso. Enfim, melhor ir deixando as palavras e idéias se manifestarem. 

Eu trabalho como ator e também sou pesquisador musical. Minha grande paixão, há 20 anos, é conhecer e resgatar as atrizes/cantoras populares da metade do século XIX( 1859) até a década de 1930. Coleciono gravações e discos 78 rpm (os chamados discos de cera) desde o início da indústria fonográfica em nosso país (1902). 

Partindo disso, também pesquiso o Teatro de Revista desse período e a Música Popular Brasileira, e também sou um amante do cinema. Gosto dos cantores e sou fã de vários. Porém, notei que a figura feminina no período da Belle Époque brasileira, e até antes, era pouco ou quase nada mencionada. Ao buscar mais informações sobre essas mulheres, me deparei com poucas publicações. Muitas delas apenas citando seus nomes e nada de suas carreiras. Insisti e consegui descobrir uma porta para uma época muito interessante, com personagens mais interessantes ainda. A artista que me proporcionou esse contato se chama Pepa Delgado. 

O interessante é que Pepa viveu de 1887 até 1945 e, mesmo 48 anos depois de sua partida, ela inspirava um jovem de 17 anos a ter o grande desejo de escrever sua biografia e a de suas colegas. Isso deu início ao contato com sua família e a uma amizade muito especial travada com seu filho e neta. Foram eles que me doaram um rico material e me cederam informações preciosas para que eu começasse um quebra-cabeça, cuja imagem esboçada trazia outras personagens tão interessantes quanto Pepa. Outras artistas são resgatadas por mim. Faço questão de ir buscar as que, hoje, estão mais esquecidas. 

Nosso país é apontado como "sem memória". Eu até concordo com isso. Vide as dificuldades que nós, pesquisadores, temos de encontrar certos dados. Mas há pessoas (muitos jovens, diga-se de passagem) que se dedicam ao resgate nos mais variados setores, sejam por paixão ou profissionalmente; uma nova realidade começa a surgir. 

Entre esses jovens destaco Thais Matarazzo Cantero. Não nos esqueçamos dos "mestres" como Jota Efegê, Ary Vasconcelos, Abel Cardoso Junior que muito contribuiram, e continuam contribuindo com suas obras, pelo conhecimento de de nosso passado musical. E, também, os atuais "mestres" que tanto nos ajudam, como Maria Helena Martinez Correa e Nirez (Miguel Ângelo de Azevedo). Quero usar esse espaço para expor minhas idéias e pesquisas. 

Grande Abraço a todos!




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