sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

RISOLETTA, a Inimitável Cantora da Belle Époque


Risoletta foi uma das pioneiras da indústria fonográfica brasileira. 

Informações em jornais da época indicam que também era atriz. Em seus discos, lançados pelas gravadoras Brazil Record, Columbia Record e Odeon Record (que era gravada na Casa Edison), vinha escrito nos selos: A Inimitável Risoletta. 

Como outras cantoras da época, ela tinha grande prestígio e fãs. 

Seu repertório em discos é formado por músicas de compositores consagrados parcerias com Bahiano e, em maior número, com Eduardo das Neves, com quem registrou antológicos duetos. De Chiquinha Gonzaga, ela gravou cinco músicas, importante na carreira de ambas.

E também como os artistas da Belle Époque brasileira, principalmente as mulheres, Risoletta ficou esquecida por décadas, quase um século. Esse longo período fez com que as informações sobre ela fossem minguando, chegando quase a sumir.

Quem sabe, de uma hora para outra, surja alguma informação sobre sua vida e carreira, como aconteceu comigo e a cantora Pepa Delgado, que gravou discos antes dela. Nada é impossível. Em décadas de pesquisas, percebi que, quando menos esperamos, recebemos informações que julgávamos impossíveis de se adquirir.

Comemorando meus 24 anos de pesquisas musicais (ocorrido em dezembro, último), trago para vocês a Inimitável Risoletta.

Obs: A gravação mecânica favorecia a voz masculina, os tons graves. Alguns discos eram gravados em 76 rpm, e não 78. Quando tocados em aparelhos próprios para 78 rpm, a voz ficava adulterada. Mesmo tentando regular em programas como Sound Forge, conseguimos alcançar uma voz "normal" para as cantoras, mas, a voz masculina fica comprometida. 



Músicas


Iremos ouvir as seguintes músicas interpretadas por Risoletta:

Baiana dos Pastéis
Cançoneta de Chiquinha Gonzaga
Disco Columbia 12155
Gravado em 1910



Espera-me à saída 
Dueto gravado por Risoletta e Eduardo das Neves
Disco Odeon 108.833, matriz XR-1515
Lançado em 1912
Pelega=Papel moeda cédula




Machuca!...
Cançoneta de Chiquinha Gonzaga e Patrocínio Filho
Acompanhamento de piano
Disco Columbia Record B-242, matriz 12193
Lançado em 1912



Paladinos da Cidade Nova
Chula gravada por Risoletta, Eduardo das Neves e Bahiano
Disco Odeon Record 108.755, matriz XR-1421
Lançado em 1913




A Pimentinha (Coplas da Pimenta)
Dueto gravado por Risoletta e Eduardo das Neves
Disco Odeon 108.757, matriz XR-1423
Lançado em 1913









Paladinos da Cidade Nova




Risoletta
Quem quiser aprender a maxixar
venha comigo exercitar
Nossa Lira, no chão, ninguém me rouba
Que os Paladinos são cotuba


Eu vou beber

Eu vou me embriagar
Eu vou fazer barulho
pra polícia me pegar!


Eduardo

Corre, corre, minha gente
Venham, venham, bem ladinos
Vamos ver na passagem
os soberbos Paladinos


Eduardo

Eu vou para a rua
todo mês e todo ano
Que eu quero encontrar
o meu amigo Bahiano


Eduardo

Eu tenho que fazer um rolo
Eu faço um rolo dos diabos
Eu, ao lado do Bahiano, estou garantido
Porque não há ninguem que venha lutar com
dois caboclos vagabundos, valentes da Bahia
como nós dois somos!
Ah! Ah!




A Pimentinha
(Coplas da Pimenta)

Seja verde ou vermelhinha
eu sou boa como o quê
Não há como a pimentinha, yoyô
que bota tudo a perder
Dentro da boa moqueca
misturada com dedê
A gente fica sapeca, yayá (yoyô)
assim como você vê


Gente pobre, gente rica
só procura nos morder
Eu venho (nós somos) de Itaparica, yayá (yoyô)
somente para moer

- Machuca, mulata!

Aí, tentação do inferno.
- Deixe comigo!

Mulata, firma, sustenta
Faz conhecer seu valor
Que a comida sem pimenta, neném
não tem o mesmo sabor

Tem fagulha, tem centelha
que é capaz de comover
Quando a pimentinha aparece, yoyô
é pra gente se perder

- Mói, mulata!
Mói, malvada!
Mói, assim...

Tem fagulha, tem centelha (centelha)
que é capaz de comover (comover)
Quando a cousa aparece, yoyô
é da gente se perder
Pelo queixo a baba desce (a baba)
Faz a gente comover (vai, sai babando)
Quando a pimentinha aparace, yoyô (que é que faz, minha nêga?)
é da gente se perder (se perder)

- Me espera, aqui do lado, mulata.

Tu, também és baianinha
de Itaparica, yoyô
És a verde pimentinha, mulata
que dá gosto no zorô
Dentro da boa moqueca
misturada com dedê
A gente fica sapeca, yayá (yoyô)

Gente pobre, gente rica
só procura nos morder
Eu venho (nós somos) de Itaparica, yayá (yoyô)
somente (assim) para moer (para te ver)

- Bravo!
- Machuca, mulata!

- Vai, mulata!

- Você vai com o Eduardo das Neves pra Bahia outra vez!...

- É, não tenho dúvida!





Espera-me à saída

Eu sou mulata de respeito
Come, come, vê e vai à toa
Tenho um jeitinho de agradar
Sou rapariga
Eu sou bem boa

Chega, meu povo, chega
Sem bolinar e sem briga
Sei olhar uma pelega
Sou a boa rapariga
(Ai)
(Sem barulho, amor
sem briga)
- Tem amor à uma pelega?
O que tu és?
- Você me espera na saída?
- Não vou pra isso 
que estou devagar
Estou quebrado, sem vintém.
- Aqui está tua mulata!

Eu sou crioulo decidido
Seu agradar uma mulata
Se tu quiseres, vem comigo
Mas, eu sou pronto, oh ingrata

Chega, mulata (meu povo), chega
Sem bolinar (sem barulho, amor)
sem briga
Vem olhar (Tens amor a) 
uma pelega
Sou a (Tu és)
boa rapariga.

- Espera, mulata!
- Hein?
Que diabo de negócio é esse?
- Então, você vai dar um
passeio de automóvel na Avenida Central 
ou não vai?
- Vou, meu nêgo!
Você tem os arame, 
lá vai a mulata!
- Qual arame, nem nada.
Tu vai mesmo é na puríssima, sabe disso?
Você me espera na saída, meu nêgo.
- Mas, já sabe: é na puríssima!
- Aqui está tua mulata!

Tenho corrido pé
que é em légua
Para passar um bom consolo
Sou levadinha da breca
estando ao lado do crioulo.

- Ela vem!

 - Eu sou tua rapariga, meu nêgo.
- Olha, mulata, a respeito de pelega, minha nêga
é como nós conversemo.
- Ah, isso sim.
Você me espera na saída, meu nêgo?
- Ah, mas é sem pelega.
Você sabe que, hoje em dia, 
as pelegas estão por um preço bárbaro.
- Mas, vamos mesmo de automóvel fon-fon?
- É, mas as notas de cinco, agora,
estão valendo quatro mil e quinhentos, minha nêga.
- Aqui está tua mulata!
- Vai, espere na esquina que eu já vou.





 A Baiana dos Pastéis

Sou baiana querida dos moços
Na gordura não tenho rivais
Quando passo por eles, eu ouço
Coração, não me diz para onde vais?
Vou seguindo, batendo as chinela
Que, de leve, se agregam ao meus pés
Par em par vão se abrindo as janela
Vou vendendo, sem medo, os pastéis

Ao comer d´angu saboroso
Com bastante pimenta pra arder
Com bastante pimenta pra arder
Os velhotes lambem-se de gozo (se lambem)
Com a lingüinha de fora a mexer
Com a lingüinha de fora a mexer

Se na massa me dizem que acerto
Eu, aqui quieta, que disso não creio
Pois algum conhecido ouve perto
Quer que mude e esqueci o recheio
No trabalho não morro de inveja
Sou feliz, sou pra todo tempero
Se do bairro, a festança que enfeita
Tem correntes ao meu tabuleiro

A baiana pra ter freguesia
Dorme cedo e sai antes
Não se pode nascer na Bahia
Da pimenta sustenta o farol
Deste mundo tamanho me orgulho
Tudo isto foi feito pra mim
Eu num samba não faço barulho
Assim quer, meu Senhor do Bonfim






Machuca!...

À gentilíssima e distincta artista Pácida dos Santos

Letra de Patrocínio Filho                                       Musica de Francisca Gonzaga

Sou morena bonita e galante
Tenho raios e settas n´olhar
E nem pode uma Lyra de Dante
Os encantos que tenho cantar
Quando pass´ os bilontras m´olhando
De bino´clo  erguido c´ardor
Dizem todos se bamboleando
Abrazados em chamas damor

Ai morena
Morena querida
Tu nos pões a cabeça maluca
Pisa, mata, destro´esta vida
Ai morena, morena, machuca!...

Eu machuco devéras a todos,
Até fico contente por isso;
Ao fital-os os deixo por loucos,
Pois fitando-os lhes deito feitiço.
Sou morena que quando passeio,
Deixo cauda de luz, como um astro,
E uma recua de gente que veio
Me dizendo seguindo o meu rastro

Estes fogos que tenho nos olhos,
E que tem até dom de encantar
São na vida, no mundo os escolhos,
Onde os peitos se vêm quebrar
Mas a culpa não é não é minha
E´ dos homens que vem com ardor
Me julgando dos ceus a rainha
Me dizendo abrazados de amor









Agradecimento ao Arquivo Nirez





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