quinta-feira, 14 de março de 2013

SONHO DA BOHEMIA (DAMA NEGRA), poesia de CASTRO ALVES

Castro Alves


Há 166 anos, em 14 de março de 1847, nascia na Bahia o poeta Castro Alves.
Em sua homenagem, o dia de seu nascimento passou a ser, também, o Dia da Poesia.

Trago um bonito poema intitulado Sonho da Bohemia (Dama Negra), feito em homenagem à atriz Eugênia Câmara, o grande amor do poeta.

Esse poema recebeu duas versões musicadas ainda no século XIX, uma no Ceará e outra na Paraíba, recebendo o título de Vamos, Eugênia, vamos.

No começo do século XX vários cantores gravaram em discos. Aqui, temos duas versões feitas por Mário Pinheiro. Uma de 1905, intitulada Eugênia; e a outra de 1910, intitulada Vamos, Eugênia. Mário não gravou o poema completo e há mudanças em alguns versos, como nos iniciais, em que ele muda "Vamos, meu anjo, fugindo" para "Vamos, Eugênia, fugindo".



Eugênia Câmara em esboço a carvão de Octavio Torres.
Inst. Geog. e Hist. da Bahia, Salvador (BA).




EUGÊNIA
Modinha 
Poesia de Castro Alves
Gravada por Mário Pinheiro com acompanhamento de violão
Disco Odeon Record 40.611
Gravado em 1905



VAMOS, EUGÊNIA

Modinha 
Poesia de Castro Alves
Gravada por Mário Pinheiro 
Disco Victor Record 99.721
Gravado em 1910






SONHO DA BOHEMIA

- DAMA NEGRA -



I

Vamos, meu anjo, fugindo,
A todos sempre sorrindo,
Bem longe nos ocultar...
Como boêmios errantes,
Alegres e delirantes
Por toda a parte a vagar.



II

Há tanto canto na terra
Que uma vida inteira encerra!...
E que vida!... Um céu de amor!
Seremos dois passarinhos,
Faremos os nossos ninhos
Lá onde ninguém mais for.


III

Uma casinha bonita,
Lá na mata que se agita
Do vento ao mole soprar,
Com as folhas secas da selva
Com o lençol verde da relva
Oh! quanto havemos de amar!...


IV

De manhã, inda bem cedo,
Hás de acordar, anjo ledo,
Junto do meu coração...
Ao canto alegre das aves
As nossas canções suaves,
Quais preces se ajuntarão.


V

Passearemos à sesta...
Sonharemos na floresta,
Sempre felizes, meu Deus!...
Nalma lânguida esteira,
Quanta cantiga faceira
Ouvirei dos lábios teus!...


VI

E à noite, no mesmo leito
Reclinada no meu peito,
Hei de ouvir os cantos teus.
A cada estrofe bonita
No teu seio, que palpita,
Terás cem beijos, por Deus!


VII

Farei poesias ou versos
Aos teus olhinhos perversas
Aos teus "anhos, meu bem!
Tu cantarás, é Manola,
Aquela moda espanhola
Que tantos requebros tem!


VIII

Depois, que lindas viagens!...
Veremos novas paisagens,
No sul, no norte, onde for...
Voando sempre, querida,
Co'a primavera da vida,
Co'a primavera do amor.


IX

Vamos, meu anjo, fugindo,
A todos sempre sorrindo
Bem longe nos ocultar.
Como boêmios errantes
Que repetem delirantes:
"P'ra ser feliz basta amar"!








Fontes:
Arquivo Nirez
Arquivo Marcelo Bonavides
Grandes Personagens da Nossa História - Abril Cultural
http://avozdapoesia.com.br






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